Rafael Cardoso
Cosac Naify, 2011
O livro do escritor e historiador da arte Rafael Cardoso “Design para um
mundo complexo” coloca em discussão os significados dos objetos produzidos
pelos homens. Num primeiro momento, retornando à questões colocadas por Victor
Papanek na década de 60, o autor trás questionamentos atuais sobre linguagens e
sentidos que os artefatos oferecem. Como exemplo desses significados, Cardoso
discute sobre o valor dos relógios, colocando em discussão a dualidade entre o
valor de produção do objeto e os significados que ele agraga a quem o possui.
“Apesar daquilo que todos têm em comum, o relógio Rolex de menor preço
costuma custar muito mais do que qualquer relógio Swatch, e este é bem mais
caro, por sua vez, do que o relógio Cásio. Será que o preço do Rolex – dez ou
vinte ou cem vezes mais alto do que o dos outros – corresponde a uma
superioridade proporcional em termos de precisão, conforto, segurança e
durabilidade? Para a maioria das pessoas que quer adquirir um Rolex, nenhuma
dessas questões é prioritária. O rolex é desejado não por ser melhor como
relógio, mas por aquilo que ele significa independentemente do seu
funcionamento e operacionalidade” pag. 103
Ao dizer mais especificamente sobre a vida e a fala das formas, o autor
destaca a questão das formas, funções e valores do objetos, explicando desde
sua aparência e respectivos significados até o ponto sobre o ciclo de vida do
artefato. Afirma que as aparências dos objetos nunca são neutras de
significados e todos os artefatos possuem valores de juízos que nos remetem à
nossa história individual ou coletiva. Para fechar o segundo capítulo, aproximando-se
de uma discussão ambiental, Carsoso questiona o ciclo de vida do artefato.
“Diante da magnitude do problema ambiental que é o acúmulo de lixo,
compete a todos contribuir para soluções coletivas. Mas o que o design pode
fazer, nesse sentido? Os designers não controlam políticas públicas, não
comandam as redes de fabricação e nem são responsáveis pelo desenvolvimento de
novos materiais e tecnologias.”
Pag 156
Já no terceiro capítulo, o autor contextualiza o design aos desafios do
admirável mundo virtual problematizando o desenho das páginas virtuais. Numa
tentativa de explicar o funcionamento desse novo mundo, o autor se apropria de
falas do filósofo inglês Samuel Coleridge para dizer que não conseguimos mais
escapar da onipresença da rede virtual, entretanto, a vida era bem mais simples
numa época em que as redes eram usadas para caçar borboletas, ao invés de
transmitir informações.
Por fim, o autor escreve sobre os modos de ensino do design no Brasil e
afirma que a maior contribuição que o design pode fazer pela sociedade complexa
é equacionar o pensamento sistêmico. Caroso afirma que poucas áreas estão
habituadas a considerar os problemas de modo tão integrado e comunicante, e o
design – assim como a engenharia e a
arquitetura – aborda os problemas de maneira diferente que, contribuindo assim,
em sua essência, para a lógica da indústria.
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