Por Andraci Maria Atique
A
partir da inter-relação entre questões de gênero e os modos de fazer ciência,
Londa Shienbinger examina o lugar da mulher na academia e na ciência, avaliando
as questões de gênero ligadas à ciência e à sociedade nos Estados Unidos,
fazendo também comparações com outros países. Ela argumenta que, as mulheres
elaboram o saber científico de maneira diferente do modo competitivo e
reducionista dos homens, elas tendem a ser pensadoras holísticas e
integrativas, mais pacientes, persistentes e atentas a detalhes, dispostas a
esperar que os dados de pesquisa falem por si mesmos ao invés de forçar
respostas.
A
autora propõe a incorporação de uma consciência crítica de gênero na formação
básica de jovens cientistas e no mundo rotineiro da ciência, por meio de
instrumentos de análise pelos quais a pesquisa científica possa ser
desenvolvida, e também criticada em linhas feministas. Mas alerta que essa
incorporação das mulheres à ciência não pode ocorrer sem conturbações na ordem
vigente, Pois a ciência moderna é um produto de centenas de anos de exclusão
das mulheres, e o processo de trazer mulheres para a ciência exigiu, e vai
continuar a exigir, profundas mudanças estruturais na cultura, métodos e
conteúdo da ciência.
Ela
nos informa que as mulheres só foram admitidas nas universidades
norte-americanas na última década do século XIX. E que uma maneira de integrar
uma compreensão crítica do gênero na ciência, seria ter estudantes de ciência
seguindo cursos de história do gênero na ciência, mas que somente nas últimas
décadas esses cursos se tornaram disponíveis. E que parte dos conflitos entre a
Ciência versus Feminilidade, segundo Schienbinger, deve-se ao contexto histórico,
que teria levado a cultura científica a se estruturar com base na (falsa)
premissa de que dois domínios da vida – o profissional e o privado – são
separados. De modo geral, a estruturação da carreira profissional de um homem cientista
sempre partiu da premissa de que havia uma mulher em casa, cuidando de sua vida
privada.
Ela
conclui que tanto feministas quanto seus opositores concordam que o espaço para
as mulheres tentarem construir uma carreira dentro ou fora da vida acadêmica é
reduzido e deve ser ampliado. Definindo que esse acesso restrito das mulheres à
carreira científica ocorre por três razões segundo Désirée Motta Roth (p.13): 1)
a estruturação social em torno dos interesses e do poder masculino; 2) a total
cisão entre a esfera pública (dirigida para e pelos homens) e a esfera privada
(dirigida para e pelas mulheres); 3) a dissociação entre o saber considerado
ciêntífico do senso comum.
A
autora também diz, segundo Maria Teresa Citeli em sua resenha, que desde 1950
presenciamos mudanças significativas: mais mulheres presidem agências
governamentais e ocupam postos acadêmicos de prestígio; instâncias
governamentais interessam-se em monitorar a situação das mulheres nas ciências
e publicar relatórios sobre o assunto. No entanto, os avanços não são
uniformes, variam por região geográfica e área disciplinar e , mais que isso,
não estão consolidados nem garantidos.