ARTIGO SOBRE GÊNERO
“Gênero, artefato e a
constituição do lar: o caso paulistano” é um livro que nasceu a partir de um
doutorado defendido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP por Vânia Carneiro
de Carvalho. O volume trás a discussão sobre a história da formação e do
estabelecimento do gosto por decoração e consumo da burguesia paulistana. A
autora ocupa-se em analisar o relacionamento simbólico entre objetos domésticos
e formação de identidades sociais diferenciadas pelo gênero. A obra é dividia
em cinco capítulos: Ações centrípetas: individualidades sexuadas; Espaços e
representações de gênero: um campo operatório; Representações e ações
corporais: a ubiquidade do gênero; Casa VERSUS Rua: a conspicuidade feminina e
o trabalho doméstico; por fim A felicidade como conforto: bem-estar,
domesticidade e gênero.
A autora faz uma análise dos
cômodos de um tradicional palacete paulistano do século XIX e XX, ressaltando a
divisão de gênero por cômodos. Longe de um senso comum que aponta a cozinha
como local da mulher na casa e atenta ao seu recorte – burguesia paulistana de
1870 até 1920, Vânia aponta diferenças sociais do lar paulistano e do
norte-americano, lembrando que devido à nossa herança colonial, a cozinha era o
lugar dos criados. Além de buscar
referências na literatura brasileira – Machado de Assis e José de Alencar – para
interpretar o cotidiano brasileiro, a autora baseia-se em Richard Sennet e
Michel Foucault ao discutir sobre o disciplinamento dos corpos no mundo urbano.
A autora destaca que em
determinada época, a tradição colonial é desprezada e as medidas higiênicas tonam-se
ponto forte de preocupação dentro dos lares, acarretando em fortes mudanças na
decoração das casas. As cortinas pesadas que acumulassem pó já não são mais
indicadas pelos médicos, a cozinha passa a receber atenção e torna-se azulejada,
os panos e toalhas são pendurados. Por fim a autora levanta o tema que pode ser
considerado uma das hipóteses centrais de sua pesquisa: a decoração, a criação
de ambientes no lar que transmitam efeitos opostos à vida dura e competitiva na
rua, existe para o homem, não para a mulher:
“Questionando o privado como reino da
mulher, Vânia nos lembra de que o homem não somente se socializa no lar, como a
própria constituição do lar como espaço de conforto e paz, de santuário alheio
ao competitivo e bruto “mundo lá fora”, existe para servir ao homem. Todo o
esforço dessas mulheres abastadas para decorar suas casas, a fim de que nos
mínimos detalhes o espaço transmita o que a autora chama de conforto visual,
faz parte do papel social e culturalmente designado a essas mulheres como
mediadoras.”
LIVROS SOBRE PROCESSO DE PROJETO
LAWSON,
Bryan; Como Arquitetos e Designers pensam; tradução Maria Beatriz Medina; São
Paulo: Oficina de texto, 2011.
Em “Como Arquitetos e Designers pensam”, Bryan Lawson
discute o papel do designer ou projetista em arquitetura, os componentes dos
problemas em projeto e a busca de soluções. Os estilos de pensamento “são
analisados com ênfase no processo criativo” (Lawson, 2011). O livro é dividido
em 3 momentos. Inicialmente, o autor levanta a questão: O que é projetar? Nesta
parte, examina o processo de projeto como acontecimentos sequenciais e aponta
como se dá a formação dos projetistas e quais são as tecnologias para se
projetar. Ao longo dessa primeira parte, o autor faz um mapeamento do processo
de projeto na tentativa de definí-lo e chega à um resultado de: análise,
síntese e avaliação.
Na segunda parte, Lawson examina quais são os
componentes dos problemas de projeto e sugere o uso de medições, critérios e
avaliações ao se projetar. Por fim, na última parte, o autor faz ponderações
sobre o pensamento criativo em projeto. Começando pelos behavioristas, passando
pela escola da Gestalt e a ciência cognitiva. Em um dos capítulos mais
relevantes para o presente projeto, o autor discute o projetar como conversa e
percepção. Lawson destaca ainda a importância do progresso que pode ser
alcançado com a “conversa” no o ato de projetar:
“Aqui, o
importante é quanto progresso se faz com essa conversa. Não importa se há um ou
muitos projetistas, o processo parece o mesmo. Há uma interação com a situação
por meio da conversa, na qual desenhos e ideias têm o seu lugar. Sem dúvida, as
ideias são processadas por conceitos descritos com palavras. Essas palavras têm
enorme importância, já que representam um conjunto complexo de características
das quais algumas podem ajudar o projetista a ver um modo de avançar.” (LAWSON, 2011)
O autor afirma que os desenhos revelam alguns problemas e permitem ao
projetista ver situações insatisfatórias. Finaliza sugerindo estratégias para
projetar oferecendo um modelo flexível de projeto e afirmando: projetar é uma
habilidade. As habilidades podem ser adiquiridas e
desenvolvidas (Lawson, 2011).
Por Márcio Barbosa Fontão
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